Porque as pessoas destroem bens sociais que lhes são úteis, bons e necessários? Porque competimos uns com os outros em qualquer núcleo social em todos os tipos de organização? Porque somos violentos, cruéis, frios, indiferentes? Porque não conseguimos nos ver, reconhecer esta dimensão trágica dentro em nós? Porque nos destruímos se temos inteligência, recursos e tecnologias suficientes para transformar a terra num paraíso? Qualquer ser inteligente que consiga um mínimo distanciamento e isenção emocional deste meio, ficará estarrecido, estupefato com tal ILÓGICA virulência implosiva humana.
Através da audiência que damos às mídias, banalizamos de tal forma a violência, que tudo passa a parecer normal, certo, bom, tranquilo em nosso meio social. Estamos de tal forma dessensibilizados que não percebemos que o que move esta engrenagem que nos massacra é o nosso MEDO interior. Somos feitos deste MEDO. Ora, MEDO de que? Não é um medo físico, externo! É muito mais fácil lidar com uma ameaça EXTERNA, real, do que com esta ameaça INTERNA, subjetiva. Para escapar deste “perigo” oculto, vivemos pra fora, para o mundo externo, como que se o mundo INTERNO, o único lugar onde verdadeiramente existimos, não existisse.
Mas fugir deste fantasma interno não garante que nos livremos dele. Nós projetamos este MEDO interno em tudo e em todos no meio externo, no mundo natural. Assim criamos “O MAL”, criamos INIMIGOS. Quando começamos a guerra contra este mal, contra estes inimigos, nos os materializamos e eles passam de fato e existir. Isto é que é o nosso MATERIALISMO, a CRENÇA que realmente o mal que projetamos existe de fato e é uma ameaça constante. O FANTASMA mudou apenas de lugar, de dentro para fora.
Então, obviamente jamais conseguiremos resolver o problema de “fora para dentro”. Cuidando, controlando tentando debelar SOMENTE o incêndio externo, nunca conseguiremos extingui-lo. Não antes de acabarmos com o INCENDIÁRIO OCULTO dentro de cada um de nós. O MAL externo só existe porque o verdadeiro MAL, o interno, se projeta fora. Com um pouco de coragem podemos olhar para dentro de nós, reconhecer este apavorante e desesperador MEDO interno e perguntar, "do que" é este MEDO?
O que existe no nosso mundo interno que poderia nos colocar em tal ESTADO DE PÂNICO, a ponto de nos fazer perder a cabeça e agir ilógica, insanamente, como fazemos no mundo externo? Do que é feito este nosso mundo interno que o faz parecer tão perigoso? Com um pouco mais de coragem vamos olhar para dentro e tentar descobrir. Há algo tangível neste mundo interno? Óbvio que não. Tudo é impalpável, intocável.
A primeira coisa que podemos PERCEBER com clareza, que salta logo a frente assim que olhamos este mundo interno é o “tropel”, o “estouro”, como se fosse de uma boiada de PENSAMENTOS, desordenados, caóticos, que passam em sequência LINEAR como que presos por uma corrente invisível, ante nosso OLHAR interno. É muito difícil romper esta “correnteza”. Se tentamos ficar sem PENSAR, por alguns segundos que seja, logo a correnteza volta com força, nos domina, nos arrasta, para lugar nenhum.
Há algo mais internamente além deste fluxo torrente de pensamentos? É difícil notar a princípio, enquanto este PENSAR se mantém à frente como um enorme biombo, tomando conta e encobrindo todo cenário interno. Se isto é tudo que nos DOMINA internamente, só podemos supor que o tal MEDO apavorante que nos aprisiona, esta contido neste mar de PENSAMENTOS. Temos que entendê-lo. De que são feitos os PENSAMENTOS? Se você é inglês, de que são feitos seus pensamentos? E se for francês? E árabe? Os pensamentos dos povos destes países são diferentes dos nossos da LÍNGUA portuguesa? Se fossem seria impossível nos entendermos. Uma LÍNGUA é um código matemático, igual para todas as línguas, apenas feito de SÍMBOLOS diferentes. O que são estes símbolos? Para a maioria dos povos do mundo são feitos de letras que formam PALAVRAS. Para os asiáticos são feitos de IDEOGRAMAS. Então fica fácil deduzir que os PENSAMENTOS são feitos de PALAVRAS ou IDEIAS, que no fim são a mesma coisa.
Já ouviu a frase, “mapa não é território”? As IDEIAS não são os FATOS do mundo externo, apenas o representam. Portanto, é preciso tomar muito cuidado e não se confundir, pois o mundo interno feito de IDEIAS, embora representando o mundo externo, NÃO É REAL. Tomar o mundo interno de IDEIAS, como REAL, é uma ILUSÃO.
Mas não é isto que acontece com quase todos de nós? Não é verdade que tomamos este mundo interno de IDEIAS tão a sério que o consideramos REAL. Consideramos este mundo tão REAL que o confundimos com nós mesmos. Se o mundo interno é feito de IDEIAS e temos certeza que somos este mundo interno, então é óbvio que somos também uma IDEIA. Temos uma AUTOIMAGEM interna que nos representa. Ou seja temos uma IDEIA do que somos, mas como a IDEIA não é um FATO real, temos uma IDEIA ilusória do que somos. Em vez de termos esta IDEIA ilusória, não seria melhor VERMOS POR NÓS MESMOS, O QUE DE FATO SOMOS.
É certo que não somos IDEIAS e é FATO inegável que estamos sozinhos neste nosso mundo interno. Dali não conseguimos sair nem ninguém consegue entrar. Se não somos o PENSAMENTO, o que será que somos? Quando propus, num dos parágrafos acima, observarmos nosso mundo interno, grifei em letras maiúsculas, entre outras, as palavras PERCEBER e OLHAR interno. SE você OLHAR com acurada ATENÇÃO vai PERCEBER que o PENSAMENTO não consegue ver a si próprio. Alias o PENSAMENTO é cego e surdo, não consegue ver nem ouvir nada. O que VÊ, PERCEBE, consegue focar a ATENÇÃO, por VONTADE própria, ESPONTANEAMENTE, não é o PENSAMENTO, é outra coisa. Este “algo” PRESENTE que se movimenta e AGE, além e concomitantemente ao PENSAMENTO é um FATO inegável. Não importa que não consigamos “botar um rótulo” nisto, defini-lo numa IDEIA, transformá-lo num PENSAMENTO que possamos IDENTIFICAR com clareza como algo JÁ CONHECIDO. É um FATO e está lá VIVO dentro em nós.
Para facilitar nosso diálogo vamos chamar este algo IMPESSOAL, DESCONHECIDO que PERCEBEMOS em nós de: “PRESENÇA”. Temos então esta PRESENÇA e temos o PENSAMENTO que representa o mundo real. Um é REAL e outro ILUSÓRIO. Disse acima que o PENSAMENTO é cego e surdo! Porque? O pensamento é algo mecânico INCONSCIENTE por isto flui, por vontade própria, como uma “correnteza bravia”, quase indomável dentro em nós, sem nenhum controle, sem nenhuma lucidez, sem sentido, linearmente, vindo de não se sabe onde e indo não se sabe ara onde. Não é possível colocar ali uma torneira e fechar seu fluxo. Isto é um FATO fácil de PERCEBER, simplesmente observando. O PENSAMENTO é cego e surdo porque com esta PRESENÇA em nós. É impenetrável, mecânico. Apenas segue diretrizes, sinais, comandos.
Esta incomunicabilidade, da mesma forma acontece com os outros. Quando tentamos nos comunicar ACREDITANDO que somos o PENSAMENTO, acontece tudo, menos comunicação (AÇÃO EM COMUM). Apenas emitimos e recebemos sinais que os PENSAMENTOS seguem ou não. Tudo é mecânico. Não existe SENSIBILIDADE, ATENÇÃO, PERCEPÇÃO, AFETO, COMPAIXÃO nesta ação do PENSAMENTO. Se o PENSAMENTO é feito de palavras onde é que fica guardado este imenso arquivo de palavras? MEMÓRIA, o nosso ARQUIVO MORTO. O PENSAMENTO para se articular recorre ao seu BANCO de MEMÓRIAS, colhe dos arquivos as informações memorizadas e as expele, de acordo com seus interesses. Portanto o PENSAMENTO não é outra coisa senão um CEMITÉRIO de IDEIAS enterradas na memória. É fácil constatar este FATO, pois no nível superficial da CONSCIÊNCIA estão apenas as IDEIAS de interesse do momento e não o ARQUIVO inteiro. O resto esta enterrado no que se chama de INCONSCIENTE.
Temos um INCONSCIENTE individual e um COLETIVO. Foi isto que o psiquiatra Carl Gustav Jung descobriu há 100 anos atrás. Significa que nós humanos temos todos uma MENTE COLETIVA um gigantesco ARQUIVO MORTO de memórias que remonta, no mínimo, aos inícios desta civilização há 13 mil anos atrás. Por isto jorra, através do nosso cérebro, este furioso fluxo de PENSAMENTOS vindos não se sabe de onde e indo não se sabe para onde.
Quando ACREDITAMOS que somos este “monstro mecânico acéfalo” que é o PENSAMENTO humano, quando nos IDENTIFICAMOS com ele, nos tornamos uma de suas IDEIAS e materializamos esta aberração no mundo externo.
Se você estivesse numa frágil canoa, a deriva numa furiosa correnteza, sem nenhum controle de direção, sendo levado para o abismo de uma colossal cachoeira, cujo apavorizante estrondo já se ouve ao longe, não seria tomado de intenso PÂNICO? Dominado pelo MEDO que atitudes lúcidas conseguiria tomar? O MEDO não o deixaria cego, surdo e impotente?
É por isto que o homem é prisioneiro do seu MEDO interno, onde não existe cachoeira, correnteza, canoa nem ninguém dentro em perigo. Esta PRESENÇA VIVA, o ser real que você é, ainda não viu a si própria, porque foi enganada pela “cortina” do PENSAMENTO que encobre tudo a sua frente. Esta PRESENÇA se IDENTIFICA com o PENSAMENTO e acha que é ela, a VIDA real, embarcada na frágil canoa do PENSAMENTO rumo ao inevitável suicídio no abismo. Esta ILUSÃO cria a o MEDO e a CONSCIÊNCIA do SER REAL, que você É, projeta esta confusão no mundo material, como se ele fosse a tela de um cinema e a CONSCIÊNCIA, fosse as lentes de um poderoso projetor.
Quem você escolhe ser, o PENSAMENTO prisioneiro e escravo ou a CONSCIÊNCIA livre e amorosa? Sempre na vida, VOCÊ DECIDE! Wagner Benitez Nogueira
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